Encostei-me a ti, sabendo que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí. (Cecília Meireles)
Categoria: Cecília Meireles
De longe te hei-de amar
De longe te hei-de amar - da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância. Do divino lugar onde o bem da existência é ser eternidade e parecer ausência. Quem precisa explicar o momento e a fragrância da Rosa, que persuade sem nenhuma arrogância? E, no fundo do mar, a Estrela,… Continuar lendo De longe te hei-de amar
Biografia – Cecília Meireles
Escreverás meu nome com todas as letras, com todas as datas, e não serei eu. Repetirás o que ouviste, o que leste de mim, e mostrarás meu retrato, e nada disso serei eu. Dirás coisas imaginárias, invenções sutis, engenhosas teorias, e continuarei ausente. Somos uma difícil unidade, de muitos instantes mínimos, isso seria eu. Mil… Continuar lendo Biografia – Cecília Meireles
Epigrama n. 2
És precária e veloz, Felicidade. Custas a vir e, quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas. Felicidade, és coisa estranha e dolorosa: Fizeste para sempre a vida ficar triste: Porque um dia se vê que as horas todas passam, e… Continuar lendo Epigrama n. 2
Onda
Onda Quem falou de primavera sem ter visto o teu sorriso, falou sem saber o que era. Pus o meu lábio indeciso na concha verde e espumosa modelada ao vento liso: tinha frescuras de rosa, aroma de viagem clara e um som de prata gloriosa. Mas desfez-se em coisa rara: pérolas de sal tão finas… Continuar lendo Onda
Conheço a residência da dor
Conheço a residência da dor.É um lugar afastado,Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,Com umas imensas vigílias diante do céu.A dor não tem nome,Não se chama, não atende.Ela mesma é solidão:Nada mostra, nada pede, não precisa.Vem quando quer.O rosto da dor está voltado sobre um espelho,Mas não é rosto de corpo,Nem o seu espelho é… Continuar lendo Conheço a residência da dor
PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA
Pergunto-te onde se acha a minha vida. Em que dia fui eu. Que hora existiu formada de uma verdade minha bem possuída Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada. E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida por esperanças hereditárias? E de cada pergunta minha vai nascendo a sombra imensa que envolve… Continuar lendo PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA
Não te Fies do Tempo nem da Eternidade
Não te fies do tempo nem da eternidade que as nuvens me puxam pelos vestidos, que os ventos me arrastam contra o meu desejo. Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te vejo! Não demores tão longe, em lugar tão secreto, nácar de silêncio que o mar comprime, ó lábio, limite… Continuar lendo Não te Fies do Tempo nem da Eternidade
Noções – Cecília Meireles
Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos. Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos. Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge. Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram. Virei-me sobre… Continuar lendo Noções – Cecília Meireles
Isso é muita sabedoria – Clarice Lispector
Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou… Continuar lendo Isso é muita sabedoria – Clarice Lispector