De longe te hei-de amar - da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância. Do divino lugar onde o bem da existência é ser eternidade e parecer ausência. Quem precisa explicar o momento e a fragrância da Rosa, que persuade sem nenhuma arrogância? E, no fundo do mar, a Estrela,… Continuar lendo De longe te hei-de amar
Tag: poesia
A HORA DO CANSAÇO
As coisas que amamos, as pessoas que amamos são eternas até certo ponto. Duram o infinito variável no limite de nosso poder de respirar a eternidade. Pensá-las é pensar que não acabam nunca, dar-lhes moldura de granito. De outra matéria se tornam, absoluta, numa outra (maior) realidade. Começam a esmaecer quando nos cansamos, e… Continuar lendo A HORA DO CANSAÇO
Biografia – Cecília Meireles
Escreverás meu nome com todas as letras, com todas as datas, e não serei eu. Repetirás o que ouviste, o que leste de mim, e mostrarás meu retrato, e nada disso serei eu. Dirás coisas imaginárias, invenções sutis, engenhosas teorias, e continuarei ausente. Somos uma difícil unidade, de muitos instantes mínimos, isso seria eu. Mil… Continuar lendo Biografia – Cecília Meireles
Neurolinguística
Quando ele me disse ô linda, pareces uma rainha, fui ao cúmice do ápice mas segurei meu desmaio. Aos sessenta anos de idade, vinte de casta viuvez, quero estar bem acordada, caso ele fale outra vez. Adélia Prado
Epigrama n. 2
És precária e veloz, Felicidade. Custas a vir e, quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas. Felicidade, és coisa estranha e dolorosa: Fizeste para sempre a vida ficar triste: Porque um dia se vê que as horas todas passam, e… Continuar lendo Epigrama n. 2
Onda
Onda Quem falou de primavera sem ter visto o teu sorriso, falou sem saber o que era. Pus o meu lábio indeciso na concha verde e espumosa modelada ao vento liso: tinha frescuras de rosa, aroma de viagem clara e um som de prata gloriosa. Mas desfez-se em coisa rara: pérolas de sal tão finas… Continuar lendo Onda
Saudação da saudade
minha saudade saúda tua ida mesmo sabendo que uma vinda só é possível noutra vida aqui, no reino do escuro e do silêncio minha saudade absurda e muda procura às cegas te trazer à luz ali, onde nem mesmo você sabe mais talvez, enfim nos espere o esquecimento aí, ainda assim minha saudade te saúda… Continuar lendo Saudação da saudade
Teus olhos entristecem
Teus olhos entristecem Nem ouves o que digo. Dormem, sonham esquecem... Não me ouves, e prossigo. Digo o que já, de triste, Te disse tanta vez... Creio que nunca o ouviste De tão tua que és. Olhas-me de repente De um distante impreciso Com um olhar ausente. Começas um sorriso. Continuo a falar. Continuas ouvindo… Continuar lendo Teus olhos entristecem
E eis que
E eis que em breve nos separaremos E a verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia Eu agora sei, eu sou só Eu e minha liberdade que não sei usar Mas, eu assumo a minha solidão Sou só, e tenho que viver uma certa glória íntima e silenciosa Guardo… Continuar lendo E eis que
VIA-LÁCTEA – SONETO XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto.… Continuar lendo VIA-LÁCTEA – SONETO XIII